15 desatinónimos para Fernando Pessoa

domingo, fevereiro 25, 2007

O Parque dos Poetas

No dia da inauguração do Parque dos Poetas, chovia que Deus a dava. Um pequeno engano. Sendo a Irlanda e Portugal dois países de poetas, o Centro de Coordenação tinha distribuído tempo de Portugal (25 graus, céu limpo, brisa acariciadora) para um festival de poesia e música em Cork; e tempo mais do que justificadamente irlandês (9 graus, grossas bátegas de água, frequentes e chatas, céu farrusco e mal enfronhado) para Portugal. Oeiras, mais concretamente.
Pode-se dizer à vontade que a chuva não molha poetas, mas a verdade é que prejudicou de forma insofismável o brilho da inauguração. Em primeiro lugar, molhou bastante o fio da tesoura que foi dada ao presidente da autarquia, cujos vãos esforços para cortar uma fita da melhor seda apenas criaram um clima de “spleen” muito baudelaireano.
Finalmente, o senhor Geraldes, jardineiro diplomado com muita clorofila decepada, chegou montado no seu corcel John Deer, apeou-se, tratou algumas pessoas sem a consideração devida (era um tanto dado ao bagaço, na linha de António Nogueira) e desbastou de forma insolene a seda que deveria ter sido desflorada com cuidados de colibri.
— Prontos!
E saiu de cena, montado no John Deer de motor roufenho e pintura a precisar de um toque feminino.
O presidente da autarquia declarou aberto o Parque dos Poetas.
Marés de palmas planaram por entre a chuva. Sentiu-se cultura na atmosfera. O ar ficou mais leve. Magia pura. Os sorrisos brilharam para além das dimensões regulamentares. Mas era dia de festa. Quem ia controlar essas coisas mesquinhas ?
Caiu a noite.Foi-se a chuva. Vieram as estrelas.
Os melros, vestidos de Batman de bico amarelo, aventuraram-se ao novo design do espaço.
Bem ao centro do Parque, ouviu-se um fósforo a riscar bronze. Um pequeno clarão de um laranja belo acendeu o luar. Depois, uma minúscula nuvem de fumo nadou até ao céu.
— Sabe, Mário, o amigo não teve sorte. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quis, nem a esperança os buscou, nem a glória os acolheu. Ou morreram jovens, ou a si mesmos sobreviveram, íncolas da glória ou da indiferença. O Mário morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor.
— Veja, Nando, no meio de tudo, colocaram-nos lado a lado no Parque. Nem tudo é azar. Podemos continuar as nossas conversas inacabadas.
— Certo, Mário. Mas era o mínimo que lhe podiam fazer. Por mim tanto fazia, desde que me lavassem a estátua com bagaço todos os dias. Mas parece que isso está garantido. Tenho as minhas fontes. No entanto, permita-lhe que lhe diga, o Mário não se dá com toda a gente. A sua vida poderia ter sido outra se se tem aproximado do Marcel. Assim, parece que Paris foi um tempo perdido.
— Compreendo o seu cuidado, mas agora é tarde, Nando. Não posso ir em busca do tempo perdido, independentemente do seu volume.
Luiz Vaz de Camões começou a dizer adeus, lá bem ao longe, da Alameda. Fernando António correspondeu ao gesto, por educação, embora sentisse um certo ciúme da figura. Mário, mais distraído, fez um sinal com a cabeça.
— Quem era, amigo Nando?
— Ninguém de especial. Um complicado das rimas. Cunhas, sabe como é. Qualquer gentinha com um mínimo de jeito para a palavra pode vir cá dar. Basta conhecer as pessoas certas. Política.
— Sei como é, Nando. Escrevi-lhe sobre isso de Paris.
— Tenho as suas cartas todas guardadas. São 202. Têm uma fitinha de organdi azul-bebé à volta. Não tinha mais nada à mão de semear.
— Escrevi assim tantas?
— Ó Mário, você precisava de desabafar com o seu amigo...
— Só você me compreendeu, Nando...
— Mário, aconteceu-lhe o mesmo que a muito boa gente. Enganou-se no atalho da existência. O importante é estarmos aqui os dois. O fumo não está a ir para cima de si, pois não? Ainda não tive tempo de estudar os ventos aqui do Parque...
— Por quem é, meu amigo. Fume à vontade. Ajuda a passar a noite. A primeira é sempre a mais difícil.
Luiz Vaz de Camões diz outra vez adeus, agora de forma mais insistente. Fernando António não conseguiu disfarçar a irritação.
— Está incomodado, Nando ?
— É o sujeitinho quinhentista outra vez, Mário. Não digo que seja má pessoa, mas é um possidónio. Não estava habituado a máquinas fotográficas, artigos de jornal, internet.
— Ah!...
— Pois, era um playboy de jet-set. Viagens, natação, miúdas, às vezes escrevia umas coisas. Mas muito encostado ao subsídio.
Ouviu-se uma ambulância. Um reflexo de pirilampo azul banhou as estátuas. Duas larvas desalojadas pela inauguração arrastaram-se penosamente até ao próximo morro de observação. Quando o dia nasceu, foi sem dor.
Por volta das nove da manhã, o sorriso de Fernando António tinha tudo de radioso. Mário acordou de umas poucas horas de sono e reparou na euforia do amigo.
— Então, Nando, acordou bem disposto, pelo que vejo?...
— Nem dormi, meu caro Mário. O Caeiro telefonou-me do campo e passou o tempo todo a discutir a temática da Dolly. Uma melga. Bom rapaz, mas muito chaga e rural, sabe como é... falta-lhe patine.
Olhe, olhe, está a ver o dos folhos no pescoço ?
— O de ontem à noite ?
— Sim, sim, veja como o sol lhe bate na tromba! Ele está mortinho por tirar os folhos, mas a vaidosice não o deixa... já ganhei o dia, já ganhei o dia...
— Ó Nando, você é que sabe, mas não está a desenvolver uns certos ciúmes com esse tal dos folhos ?
— Por amor de Deus, Mário. Só não lhe levo a mal porque sou muito seu amigo e sei que está de boa fé. O dos folhos só escreve manuais para a escola. Lê-se um canto aqui, outro canto ali. Os meus poemas lêem-se de ponta a ponta. O dos folhos a malta esquece, só sabe os primeiros versos. Os meus poemas toda a gente cita. É a diferença, amigo Mário...
— Bem, a manhã hoje está um pouco mais de azul...
— Não se entusiasme. Estamos em Oeiras. Sabe como é, o microclima do Jamor. Dá direito a tudo.
— Ó Nando, não se pode pedir um clima perfeito. Um Parque de Poetas dá trabalho a organizar.
— Pois dá, mas o jardineiro veio aí ontem pedir tabaco — o Mário estava a dormir — e contou-me umas boas.
— Por exemplo, Nando...
— Olhe, os maiorais da poesia foram escolhidos por consenso, mas depois havia uma quota por partidos e outra por sorteio, tipo tômbola.
— Não posso crer.
— Estou-lhe a vender o peixe ao mesmo preço que mo vendeu o jardineiro. É um homem do povo, simples, mas representa a essência do Quinto Império. Olhe, para já, não se deixa enganar no bagaço. Isso para mim é fundamental. Quem não se sente não é filho de boa gente.
Chegou a hora do almoço. No dia da inauguração tinham servido às estátutuas toda a sorte de benfeitorias. Mas o tempo era de crise. Até a conjuntura económico-financeira se alterar, todas as estátuas deviam levar em linha de conta a sua condição de cidadãos-poetas.
Por isso, nos primeiros três meses, a alimentação das estátuas-poetas era um tanto frugal. Deveria ser levada em consideração “a missão de representar insitucionalmente o país, o concelho e a cultura de um povo, já para não falar nos interesses da Comunidade Europeia, essa grande Disneylândia da esperança que, todos juntos, estamos em vias de construir”.
Ao pequeno almoço, uma peça de fruta e um pacote de Santal Alperce (protocolo de sponsorização). Para quem estivesse de dieta, Santal Pera. Ao almoço, duas sopas à escolha: canja de galinha com sonetos de letras (dieta) ou caldo verde com ensaios de Eduardo Lourenço; prato de carne: bolonhesa de hidratos de carbono (dieta) ou Pizza Multo Carne (protocolo de sponsorização com Pasta Café); prato de peixe: pescada cozida (dieta) ou conservas de atum Bom Petisco, com batata cozida, ovo e feijão frade (protocolo de sponsorização com Hipermercado Continente); doce: pudim do Abade de Priscos (só poetas laureados com mais do que três prémios do escalão três) ou leite-creme da avozinha; fruta: bananas e cerejas (para os poetas que já tenham utilizado palavras como cerejas).
Fernando António e Mário deglutiram rapidamente a refeição, porque preferiam os prazeres do espírito e do debate e ainda mal tinham começado a saciar-se com a espiritualidade mútua.
— Ó Nando, conhece Sadiouka Ndaw?
— Ó Mário, confesso a minha ignorância. Quem é?
— É um poeta senegalês muito interessante, dos arredores de Dakar. Vive em Rufisque.
— Sabe, Mário, eu saía pouco e não era um poeta todo-o-terreno.
— Pois, mas este cavalheiro vale a pena. Tem como balizas poéticas o poema “La mort du loup”, de Musset, e “Afrique”, de David Diop.
— Meu caro Mário, a ignorância não é vergonha nenhuma. Vergonha é fingir conhecimento onde ele não existe. De resto, demonstra também uma enorme falta de sentido prático. Mais tarde ou mais cedo, qualquer poeta é apanhado na sua própria armadilha. E depois, balizas poéticas lembram-me sempre futebol.
— Nando, o Sadiouka é presidente de um clube da II Liga do Senegal. E também gosta de natação e pesca. Não conhece aquele poema assim: “Femme de la nuit, femme du jour, épouse immortelle de mes rêves, ange auguste aux beaux contours...”.
— Não, mas lembra-me um bocado o brasileiro Augusto dos Anjos...
— Isso depois passa.
— Mário, passava era com umas boas férias. Este Parque está a parecer-me um tanto idiota. Se não fosse a presença do meu querido amigo.
— Não desespere, Nando. Talvez se consiga um intercâmbio de Parques de Poetas, tipo Erasmus.
Os Deuses acolhem as preces. Exactamente no primeiro aniversário do Parque dos Poetas, Fernando António Nogueira Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Luiz Vaz de Camões estavam bem sentadinhos à mesa de uma esplanada, a beber uma Carlsberg estupidamente gelada. Acompanhados de um puto com estilo: Alexandre O’Neill.
Cenário: Ilhas Gregas. É preciso é saber. Ionian Star Hotel. Construído em 1983 e completamente renovado em 2001. Com vista para o porto e mesmo ao lado do Parque dos Poetas.
— Ó Alexandre, o menino conhece algum poeta grego ? — perguntou Luiz Vaz.
— Nem estou interessado — respondeu O’Neill, muito calmamente, verbalizando a sua grande dúvida existencial do momento:
— Será que estes gajos têm tremoços? Alguém sabe dizer tremoços em grego?
E pôs-se a gritar para o empregado: “Yellow smarties for beer, yellow smarties for beer”. Em vão.
Pois, a vida não custa. É preciso é saber. Casa de banho privativa, ar condicionado, TV por satélite em todos os quartos. E ainda dizem que as estátuas dos poetas se tratam mal.
— Ó Nando, diga lá agora como embirrou com o Luiz naqueles primeiros dias em Oeiras...
— Oh! Isso são águas passadas, Mário...
— Diga, Nando. Foi tão divertido. O Luiz não se aborrece.
— Pode dizer, Fernando António — tranquilizou Luiz Vaz.
— Olha, Luiz Vaz, foi uma embirração. Ainda não tinha lido a sua obra com olhos de ler. Quando descobri a Lírica perdi as manias todas.
— Fico-lhe muito grato — disse Luiz Vaz.
— Não tem nada que agradecer. Sabe que o Villaret tanto declama um como outro...
— Não sei se deva confessar isto agora aos meus amigos. Mas eu gostava mesmo era de ter os “Lusíadas” adaptados aos tempos actuais. Uma coisa multimédia com os Fura del Baus. Com muito sexo na plateia. Ou então uma comédia tipo Feydeau, encenada pelo Fernando Gomes. Ou um espectáculo daqueles de um ano em cena, no Politeama, com o La Féria a tratar de tudo. Uma coisa de que ninguém se esquecesse. Os miúdos hoje só querem playstations...
— Não diga isso, é impossível matar a poesia. Estou tranquilo — esclareceu Alexandre, enquanto tentava espreitar para dentro do bikini de uma helénica que ia a passar.
E os dias correram sempre harmónicos na ilha grega de Lefkada, onde se tinha celebrado o protocolo de amizade Portugal-Grécia. Que abrangia, entre outras coisas, um intercâmbio sazonal de estátuas-poetas.
Uma ilha tão deslumbrante e tão esquisita que tinha gerado um poeta chamado Lefkadios Hern, nascido em 1850, filho de pai irlandês e mãe grega. Depois, deu-lhe uma veneta e acabou os seus dias no Japão, em Sinzuku. Já se chamava Yakumo Koizumi.
No Parque dos Poetas, o busto de mármore de Lefkadios (ou Yakumo?) dava sempre a salva ao Quarteto Maravilha, no passeio após o almoço. E Alexandre nunca se esquecia de levar uma Guiness e uma pequena chávena com saké. Para que o poeta não tivesse de sofrer as torturas da dúvida.
Claro que até no Paraíso há sempre um pormenor que pode correr mal, com os excessos. Mário exagerava na bebida e por vezes punha-se a vomitar nas valetas e a dizer coisas parvas para Fernando António:
— Doido! Doido! Doido! Tenha muita pena de mim...
Bebedeiras, o que se há-de fazer?
Nos churrascos era a mesma coisa. Punha o avental e não deixava ninguém virar as febras:
— Um pouco mais de sol e fôra brasa. Um pouco mais de azul e fôra além.
Mas a amizade é isso mesmo. Saber perdoar aqueles coisas que nem mereciam ser perdoadas. É preciso pensar que a essa hora mais de 50 poetas portugueses de boa cepa eram vítimas do Comandante Pombinho, terrível major-aviador da 3ª Esquadrilha do Terreiro do Paço:
— Atenção a todos os bombardeiros. Operação “Lagostim” começa dentro de momentos. Acertar as anilhas. Nome de código da estátua a atingir hoje: “Alberto Hélice”.
A vida tem destas coisas. Enquanto uns fazem vida de lordes nas ilhas gregas, outros têm todos os dias as cabeças a escorrer porcaria. Um cenário habitual, há longos anos, na poesia portuguesa.
E ninguém vê isto?
Claro que sim. Todos os dias. Os milhares de visitantes do Parque dos Poetas. Papás com as criancinhas pela mão, namorados em busca do alívio das tensões sexuais, amigos que se cansaram de estar em casa a ver televisão (Poetry Shows), visionários com mensagens para transmitir ao povo. Enfim, toda a gente.
Não é para isso que serve um Parque dos Poetas?
Por esses tempos, na Grécia, Alexandre O’Neill desafiava a Vénus de Milo:
— Ó mana, não quer ir lá ao hotel comer uns pastéis?
Quem nunca frequentou um Parque dos Poetas que atire a primeira pedra.

Luís Graça, 11/6/2003, 04h58m

6 Comments:

  • Gostei desse Camões playboy em versão subsídiodependente!

    By Blogger Capitão-Mor, at 11:42 da tarde  

  • Eu também gostei. Mas como os contos são produto de uma escrita quase-automática, muitas vezes nem sei de onde vem a inspiração.
    No caso concreto, penso que ela me veio de ter lido a recusa de Cesariny em ter uma estátua no Parque dos Poetas.

    Depois fui ao Google e descobri os dados da Grécia e do Senegal.

    Descobri o Camões antes do Pessoa, por assim dizer. Em 1977, no Liceu Camões...demos Camões. "Os Lusíadas". Com a enorme vantagem de eu dispor de uma versão antiquíssima e maravilhosa. Era da minha mãe e tinha todas as estrofes traduzidas em português corrente. De modo que eu e os meus amigos passávamos por génios da tradução simultânea. Mal se acabava de ler a estrofe já um dos que estavam a ler os meus "Lusíadas" sabia a tradução.
    Miúdos de vida fácil, era o que era!

    E ainda não fui ao Parque dos Poetas!

    Este conto foi mandado via e-mail para os colegas da Comunidade de Leitores da Culturgest e uma dessas amigas resolveu fazer uma dramatização num dos nossos encontros extra-Comunidade.
    O filho de outro colega tinha umas frases e foi muito divertido quando pronunciou Alexandre O'Neill à inglesa: "Álécsander Ónáile". Depois lá o descomplexámos e demos umas luzes sobre o poeta português.

    Comecei agora a ler a sua biografia. Está muito boa.

    By Anonymous Anónimo, at 3:46 da manhã  

  • Meu querido,
    Isto dos Comandantes Pombinhos nos nossos parques e jardins tem muito que se lhe diga, mas quem trabalha perto dos Restauradores sabe que eles têm pontaria afinada e que nada nem ninguém escapa. No Palácio Foz tiveram que adoptar um sistema ultra moderno anti pombo porque os dejectos dos mesmos estava a corroer o telhado e as madeiras das janelas...

    Ai tanto poeta junto e só a Venus de Milo como musa inspiradora?

    Beijocas

    By Blogger Maríita, at 2:19 da tarde  

  • Uma vez em Braga, no Bom Jesus, fiquei muito impressionado a ver um pombo ser atropelado.
    E sempre gostei de dar milho aos pombos. Tem de haver uma solução civilizada, para além do envenenamento dos bichos.

    Quanto à inspiração, ela vem de todo o lado. E se a Vénus não fôr do Milo pode ser a Luísa do Toddy.

    Beijinhos

    By Anonymous Anónimo, at 10:11 da tarde  

  • Luís,

    Lisboa corre o rusco de que eu vá mesmo para lá. : )

    Abraço,

    Silvia

    By Blogger Silvia Chueire, at 8:00 da manhã  

  • Pode vir!
    É muito bem-vinda.
    Obrigado.
    Vou dormir. São 9 da manhã e passei a noite a escrever "problemas de teatro", para um workshop.
    Inventei um negócio de import-export de bananas, pus o irmão de um padre a matar a filha e a neta na Basílica de Pádua, com o padre de costas, a rezar a Santo António. Mas tudo por motivos piedosos.
    Agora vou dormir quatro horas. Já não posso ler mais um pouco de "Receberia as piores notícias de teus lindos lábios", de Marçal Aquino. Super-revelação para mim!

    By Anonymous Anónimo, at 9:18 da manhã  

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